Thursday, May 26, 2011

Reflexões na morte de Abdias do Nascimento

Abdias do Nascimento

Por Victor Emanuel Vilela Barbuy



Lamentamos profundamente o falecimento do líder negro e ex-Senador Abdias do Nascimento, ocorrido no último dia 24 de maio, ainda que não comunguemos da maior parte das ideias por ele defendidas nas últimas décadas, ideias nas quais vemos um claro sentimento racista que jamais poderíamos coonestar, inimigos figadais que somos de todas as ideologias racistas.

Há que ressaltar, contudo, que Abdias, nascido no Município de Franca, na Província de São Paulo, a 14 de março de 1914, nem sempre foi adepto de tais ideias, tanto que, na década de 1930, militou na Ação Integralista Brasileira (AIB) e na Frente Negra Brasileira (FNB), ambas entidades profundamente antirracistas, se opondo não somente ao racismo do branco contra o negro, mas também do negro contra o branco e defendendo a harmonia e a integração entre as diferentes estirpes formadoras da “Raça Brasileira”.

Mais importante e sadio movimento negro da História Pátria, a Frente Negra Brasileira sofreu profunda e virtuosa influência do pensamento patriótico, nacionalista e tradicionalista de seu principal líder, o tão brilhante quanto olvidado professor, pensador, poeta, escritor, jornalista e tradutor Arlindo Veiga dos Santos, aliás criador, Chefe Geral e mais notável doutrinador do Movimento Patrianovista, cuja Doutrina muito se assemelha àquelas do Integralismo Lusitano e do Integralismo Brasileiro. Diga-se de passagem que Arlindo Veiga dos Santos foi amigo pessoal de Plínio Salgado, apoiando suas duas candidaturas à Presidência da República, pertenceu à Sociedade de Estudos Políticos, cellula mater da Ação Integralista Brasileira e participou do I Congresso Integralista Brasileiro, realizado em Vitória, na Província do Espírito Santo, em 1934, proferindo, na ocasião, um inflamado discurso em que manifestou seu apoio ao Integralismo, declarando que os membros da Frente Negra Brasileira lutariam ao lado dos Integralistas, se necessário fosse.

Nesta mesma toada, cumpre ressaltar que o órgão informativo oficial da Frente Negra Brasileira, o jornal A Voz da Raça, chegou a ter como epígrafe o lema “Deus, Pátria, Raça e Família”, claramente inspirado no lema Integralista “Deus, Pátria e Família” e teve uma relação de colaboração muito intensa com o Integralismo, movimento com o qual tinha em comum, além do nacionalismo e da luta contra o racismo e pela integração do negro na sociedade, a defesa do espiritualismo e das tradições cristãs nacionais e o combate sem tréguas ao liberalismo e ao comunismo, ambos materialistas, apátridas e antitradicionais.

No livro Memórias do Exílio, de autoria coletiva, Abdias do Nascimento, havendo criticado o marxismo, para o qual “todos são iguais perante a lei... do proletariado” e “pobre de quem quiser ser diferente!” [1], declara que os temas que o “atraíram para as fileiras integralistas” foram “as lutas nacionalistas e anti-imperialistas, a oposição ao capitalismo e a burguesia” [2] – fato que, consoante observa Rubem Nogueira em sua obra O Homem e o Muro, causa espanto tão somente àqueles que jamais leram sequer um dos inúmeros livros de orientação doutrinária do Integralismo, que sempre professou a teoria do engrandecimento da Nação Brasileira, opondo-se, portanto, a todo tipo de imperialismo [3], do mesmo modo que, ao pugnar pela Ordem Social Cristã, se opõe rigorosa e vigorosamente ao capitalismo e à burguesia, entendida esta, antes e acima de tudo, como um estado espírito.

O idealizador e realizador do Teatro Experimental do Negro qualifica o tempo em que militou na AIB como “etapa importante de minha vida” e prossegue recordando que “no integralismo foi onde pela primeira vez comecei a entender a realidade social, econômica e política do país e as implicações internacionais que o envolviam” [4]. Em seguida, faz salientar que:

“A juventude integralista estudava muito e com seriedade. Encontrei e conheci pessoas de primeira qualidade como um San Thiago Dantas, Gerardo Mello Mourão ou Roland Corbisier; assim como um Rômulo de Almeida, Lauro Escorel, Jaime de Azevedo Rodrigues (...), o bravo embaixador brasileiro num país europeu que se demitiu da carreira após o golpe militar de 1964 [sic]; ou ainda Dom Hélder Câmara, Ernani da Silva Bruno, Antônio Galloti, M. Mazei [sic] Guimarães e muitos outros. Conheci bem de perto o chefe integralista Plínio Salgado, de quem em certa época fui amigo” [5].

Anos mais tarde, quando acontecia a II Guerra Mundial e Abdias do Nascimento e seu Comitê Democrático Afro-Brasileiro costumavam reunir-se na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), os comunistas passaram a usar o passado Integralista do líder negro como um “slogan de confrontação”, chegando a, certa feita, exigir de sua parte uma retratação pública. Abdias, porém, como “homem honrado e de coragem moral”, na expressão de Rubem Nogueira [6], negou-se a renegar o passado Integralista, pois “não tinha nada a declarar naquela espécie de autocrítica sob coação. Nada havia no meu passado para lamentar ou arrepender. Não me submeteria àquela chantagem” [7].

É este o Abdias que admiramos, cuja morte lamentamos imensamente e a quem prestamos merecida homenagem.



Por Cristo e pela Nação!



Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira.

São Paulo, 26 de maio de 2011-LXXVIII.



[1] NASCIMENTO, Abdias do. Entrevista. In CAVALCANTE, Pedro Celso Uchôa e RAMOS, Jovelino (orgs). Memórias do exílio. 1964/19??. De muitos caminhos. Vol. 1.São Paulo: Editora Livraria Livramento, 1978, p. 25.

[2] Idem, p. 30.

[3] NOGUEIRA, Rubem. O Homem e o Muro: Memórias políticas e outras. São Paulo: Edições GRD, 1997, PP. 107-108.

[4] NASCIMENTO, Abdias do. Entrevista. In CAVALCANTE, Pedro Celso Uchôa e RAMOS, Jovelino (orgs). Memórias do exílio. 1964/19??. De muitos caminhos. Vol. 1, cit., loc. cit.

[5] Idem, loc. cit.

[6] NOGUEIRA, Rubem. O Homem e o Muro: Memórias políticas e outras, cit., p. 108.

[7] NASCIMENTO, Abdias do. Entrevista. In CAVALCANTE, Pedro Celso Uchôa e RAMOS, Jovelino (orgs). Memórias do exílio. 1964/19??. De muitos caminhos. Vol. 1, cit., p. 32.

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