Tuesday, March 01, 2011

Manifesto de 1936 - Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança

Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (foto tirada da revista "Anauê!", !, ano I, nº 4 , Rio de Janeiro, outubro de 1935)

S.A.I. Snr. Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, “o Príncipe Esperado”, fala aos Brasileiros.


Brasileiros!

Impedido por motivos de ordem particular, que deploro, de assistir como tanto quisera fazê-lo, à trasladação dos despojos mortais dos meus inesquecíveis avós, cujo maior título de glória, no mais belo sentido da palavra, foi ter servido à Nação Brasileira durante o decurso de meio século, numa estreita cooperação entre o Povo e a Coroa, é-me grato dirigir-vos esta mensagem de saudação e amizade.
Pastor do seu povo, partilhando com ele as glórias como as provações, D. Pedro II, o Magnânimo, realizou durante o seu longo reinado a obra máxima a meu ver reclamada pelo Brasil. Integrou num bloco a nacionalidade ainda dispersa, formando um todo que até hoje resiste aos mais fortes embates. Vislumbrou com clara percepção os perigos que nos ameaçavam e soube formar um feixe sólido, firmado em nossa unidade de língua e de tradições.
Assim, a república, no nascedouro, já encontrou uma nacionalidade indissoluvelmente constituída, que resistiu até hoje aos choques da politicagem dissociativa. Optando pela república, um povo opta pelas lutas internas, no dizer do pouco suspeito M. Sembat. Não cuida mais, portanto, do seu desenvolvimento de nação do ponto de vista externo. Fatalmente a mentalidade republicana é inclinada à luta demagógica e de partidos, desprezando os problemas de ordem internacional. Somente por vezes e sob a pressão de um incidente imprevisto é atraída, solicitada para o interesse nacional, que no seu íntimo receia, pois corre o risco de ser por ele dominada. O instinto de conservação dos partidos fá-la voltar logo à sua verdadeira natureza, isentando-a das realidades nacionais e alheando-a das forças mais representativas da sua unidade: o Exército e a Marinha.
O mal não é dos homens, como muito se tem dito, é do sistema que deforma o seu ângulo de visão.
Hoje, porém, o Brasil conta novamente com filhos que, vendo o perigo que nos ameaça, resolveram combater pelo ideal do Brasil uno, sem por isto prejudicar a autonomia e as diferenciações administrativas de cada região. Serão ouvidos e seguidos, pois sua causa e boa e justa; e os sofismas não poderão prevalecer contra eles.
Permita Deus que os espíritos dos grandes lidadores da integridade do Império, D. Pedro II e Caxias, animem e orientem os esforços dos Brasileiros em prol de uma pátria forte e unida pela sua mística e aspirações.
Mas isto não quer dizer que, para alcançarmos o objetivo colimado tenhamos que nos sujeitar à hipertrofia funcional do Estado, pois é essa a causa máxima da profunda depressão atual em todas as esferas de atividade, tanto social como política, econômica e financeira.
Por outro lado, o liberalismo econômico sem freios escraviza o mundo à alta finança internacional e anônima, sendo também uma das causa mais deploráveis do mal estar social.
Assim é que a tão propalada liberdade de trabalho não passa de uma utopia, que acaba resultando na sujeição do fraco pelo forte. O remédio eficiente reside no restabelecimento das corporações, reunindo patrões, empregados e operários de ofícios ou profissões, pertencentes ao mesmo ramo de produção. Assim fazendo, afastaremos a luta de classes, estéril e nociva para todos os interessados, oriunda da forma sindical operária ou patronal. O sistema corporativo elimina esses elementos de desassossego e realiza, no plano econômico, a organização racional da produção.
A história, como a vida, é um perpétuo recomeçar e uma constante inquietação, em prol de um objetivo ideal que se resume no maior bem estar possível, moral e material, da coletividade.
Ora, alcançaremos essa meta quando o povo, cansado de sofrer as desilusões dos fogos fátuos dos regimes ditos democráticos, voltar a uma fonte estável de governo, que reparta criteriosamente a ação administrativa, impondo a cada qual que pretenda a honra de “servir”, responsabilidades insofismáveis.
Mas um governo para assim agir necessita de unidade de direção e de liberdade de ação, dentro daquela unidade; requer também unidade de propósitos, condicionada por uma e outra premissa e uma perfeita adaptação dos meios ao fim, isenta de cálculos de ambição ou de proventos pessoais. Ora, nenhum regime consubstancia melhor esses requisitos de um bom governo, do que a forma monárquica, sob o aspecto que acabamos de expor.
Sem necessitarmos de muito otimismo, estamos presenciando, de alguns anos para cá, a uma evolução marcada no sentir dos povos ocidentais. Já não confiam mais nas promessas desabridas e irrealizáveis dos seus cortesãos, que, à caça do voto, não recuam ante a desordem e a anarquização dos espíritos e agem sem medir as consequências.
São as divergências intestinas, oriundas dessa neutralidade imediatista, que constituem hoje em dia a ameaça constante à nossa nacionalidade. Essa ameaça só pode ser contrabatida pela volta a um ambiente de brasilidade, sempre de atalaia contra as forças de dissociação.
Assim preste Deus ao Brasil o seu auxílio!

Pedro Henrique

Mandelieu, 11/XI/1936

(transcrito de folheto divulgado pela Ação Imperial Patrianovista)

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